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19 de junho de 2014

CUIDADO COM O BURRO MOTIVADO

De uns anos pra cá as grandes empresas estão começando a identificar (e agindo para mitigar) um novo fator de risco que pode dificultar e muito a execução das suas estratégias. Trata-se do "Burro Motivado", aquele funcionário que não tem muita competência, mas é o rei da iniciativa.

Durante muito tempo os "Burros Motivados" passaram despercebidos.  A hierarquia era mais rígida, o mercado brasileiro era fechado (o que premiava as empresas com margens altíssimas, que aguentavam qualquer desaforo) e, principalmente, não existia a Você S/A e nem livros como "Você é do Tamanho dos seus Sonhos".  Justo agora que as margens estão apertadas, os incompetentes estão mais motivados, cheios de confiança graças à leitura de publicações como as citadas acima e, ainda por cima, têm mais liberdade para "inovar".  A confluência destes 3 fatores é a receita de um desastre.

O BUMO (burro motivado) é o primeiro a chegar e o último a sair, é voluntário pra qualquer coisa (até brigada de incêndio). Sempre elogia as palestras motivacionais promovidas pela empresa, mesmo aquelas onde os "colaboradores" são obrigados a pagar mico fazendo massagem nas costas do cara que está sentado ao seu lado, arriscar uma queimadura de terceiro grau correndo sobre fogo ou fazer outras atividades esdrúxulas que andam inventando por aí.

Mas vamos a um caso prático, digamos que você seja um gerente em uma grande empresa e tenha uma equipe de 4 pessoas:

O IMO (inteligente motivado) é o analista que todo gerente queria ter, tem ideias boas, entrega tudo no prazo e sempre supera suas expectativas.  Na prática 99% de tudo o que sua área produz de algum valor foi feito pelo IMO.  Esse cara, obviamente, é o cara que você precisa segurar no seu departamento a qualquer custo, pois os gerentes das outras áreas vivem querendo tirar ele de você.  IMOs são raros, faça de tudo para mantê-lo na sua equipe. Vale tudo: dar carona pra ele no dia do rodízio, fazer o meio campo pra ele pegar a irmãzinha mais nova da sua esposa, etc.

O IDE (inteligente desmotivado) não é tão valioso quanto o IMO, mas sua empresa e departamento não são o Barcelona, então ter um time cheio de craques é uma utopia.  

O IDE normalmente não faz nada, mas tem umas ideias legais, e de vez em quando (coisa rara de acontecer) resolve trabalhar um pouquinho e entrega com qualidade. A estratégia para gerir o IDE é negociar, tentar arrancar mais algumas horas de trabalho através de concessões.

O BUDE (burro desmotivado), só serve pra fazer número. Ele não faz nada, mas também não se mete em fazer o que não sabe.  As funções do BUDE se resumem a duas: a primeira é proporcionar a você o status de gerir 4 pessoas, ao invés de 3, e colocar isso no seu currículo.

O seu quarto subordinado é quem impede você de ter uma noite tranquila de sono.  O BUMO entrega tudo o que você pede bem rapidinho, o problema é que além de bem rapidinho, ele costuma entregar tudo bem erradinho.  Sua autoconfiança (alimentada pela Você S.A., pelas palestras motivacionais e pelos livros de "auto-ajuda para executivos") faz com que ele ignore o simples fato de que ele não tem competência para executar uma determinada tarefa. 


Desmotivar o burro motivado, a única solução!



Voltemos a supor que você é esse gerente com quatro subordinados.  Como não existe ex-burro, transformar um BUMO em um IMO é o mesmo que tentar transformar o Chiquinho, aquele cara que joga na sua pelada de sábado, no Lionel Messi.  Ambos são esforçados, correm o jogo todo e chegam em todas as bolas mas, após chegar na bola, Chiquinho não tem a menor ideia do que fazer com ela.

Demitir o burro motivado é uma opção em casos extremos, mas nos tempos atuais, em que falta mão de obra, você vai acabar contratando um novo BUMO, pois eles são os únicos profissionais disponíveis no mercado (até os BUDEs estão disputados hoje em dia!!), ou pior, o RH vai aproveitar a situação para oficializar o downsizing da sua área, rebaixando-o a um gestor de 3 pessoas, o que você não quer.

Por Pedro Tolentino

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