Após
período difícil, analistas apontam suas avaliações para o próximo ano. Momento
será de ‘arrumar a casa’, sem grande expectativa de crescimento.
Ano de Copa e eleições apertadas, 2014 prometia dar
alento e prosperidade à economia que cambaleava no período anterior. Mas não
foi bem assim. O país avançou fracos 0,2% nos três primeiros trimestres. Saiu
da recessão técnica, mas a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deve ser a
menor desde 2009, segundo o último boletim Focus, do Banco Central.
Como se não bastasse, o Brasil corre o risco de fechar
o ano com o pior resultado nas contas públicas da história. Até novembro, a
inflação estourou o teto da meta em 12 meses (6,5%) pela quarta vez seguida. Os
juros, após um longo ciclo de baixa, voltaram a subir e estão em 11,75%.
O dólar renova máximas em quase 10 anos,fechando perto de R$ 2,70 no início da
segunda quinzena de dezembro. Após sucessivos recordes de baixa, a taxa de
desemprego parou de cair. A indústria decepcionou, apesar da importante
recuperação no terceiro trimestre. Outro pilar do crescimento, o consumo das
famílias desacelerou após anos de crescimento.
No cenário internacional, a queda nos preços das
matérias-primas (commodities), com a menor demanda da China por estes insumos,
não tem favorecido as exportações brasileiras. E o fim dos estímulos monetários
nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve, devolveu a volatilidade e incerteza a
mercados emergentes como o Brasil.
Por outro lado, a escolha da nova equipe econômica,
com Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda, foi vista como acertada
pelo mercado. Ainda mais depois que o novo ocupante anunciou um severo ajuste
fiscal para o próximo ano, com cortes de gastos e aumento na arrecadação de
impostos, além de uma meta de superávit primário de 1,2% do PIB, para colocar a
"casa em ordem".
Diante deste cenário, pairam dúvidas sobre o rumo da
economia em 2015. A condução da nova política econômica será crucial para
determinar o reequilíbrio do país, concordam economistas.
Só não há consenso quanto à eficácia dessa medida para
recuperar a saúde da economia. E seu sucesso dependerá de pequenas partes dessa
engrenagem, entre elas, as decisões de investimento das empresas, a concessão
de crédito pelos bancos e a confiança do consumidor para voltar a injetar
dinheiro na economia.
Confira abaixo o que esperam os analistas sobre os
principais componentes que definirão o destino da economia brasileira para o
próximo ano.
Produto Interno Bruto (PIB)
Com risco de fechar 2014 com uma fraca expansão de
0,2%, o PIB brasileiro, no melhor dos cenários, não deve crescer mais que 1% em
2015, de acordo com os analistas. Na previsão do mercado
sondada pelo BC, a estimativa de expansão da economia para o próximo ano recuou
de 0,77% para 0,73%, na segunda redução consecutiva.
“[2015] será um ano para ‘andar de lado". O
governo terá menos capacidade para investir e, não investindo, as empresas vão
postergar seus investimentos, que representam o mínimo necessário para se
manter competitivas e rentáveis”, avalia o economista e sócio da Órama
Investimentos, Álvaro Bandeira.
O sócio da Go Associados, Gesner Oliveira, vê uma alta
de 1% para o próximo ano, puxada pela recuperação da indústria. “Mas ela vai
crescer sobre uma base de comparação reprimida”, pondera.
A economista da Tendências Consultoria, Alessandra
Ribeiro, espera um PIB ligeiramente melhor em 2015, com alta de 0,9%. “Ainda
assim, é muito ruim”, diz. Um cenário moderadamente bom ela só enxerga a partir
de 2016, com avanço de 1,6%. “O esperado ajuste fiscal e o aumento de impostos,
além de um novo ciclo de alta dos juros, vão dificultar o crescimento”.
Na outra direção, a economista-chefe da Rosenberg
Consultores Associados, Thaís Zara, avalia que o PIB ficará estagnado. “Os
investimentos serão prejudicados pelas incertezas sobre o abastecimento de água
e energia, além dos já conhecidos problemas de competitividade e o menor consumo
das famílias”.
Para a analista, o primeiro semestre de 2015 ainda
será marcado pelas repercussões de escândalos de corrupção na Petrobras –
envolvida na operação Lava Jato da Polícia Federal – o que pode prejudicar o
custo de captação das empreiteiras.
Os investimentos
devem encolher 5,5% no ano que vem, em função da política fiscal mais rígida e
do impacto das denúncias na Petrobras, podendo criar dificuldades para novas
concessões, na visão do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. “Isso
deve paralisar os investimentos e a própria estatal, que tem peso de 30% na
produtividade do país”, analisa.
Na visão do economista, está difícil encontrar algum
grande estímulo para o crescimento entre os três principais componentes da
demanda, que puxam 80% do PIB. “O consumo das famílias, as exportações e os
investimentos não devem ajudar”, conclui Vale.
Inflação
A evolução dos
preços ficará ligeiramente acima ou abaixo do teto da meta em 2015, que é de
6,5%. O principal motivo da pressão, concluem os analistas, será o aumento dos
preços que foram represados em 2014, como a gasolina, a energia elétrica e o
transporte público.
Bandeira, da Órama, acredita que será uma “batalha”
manter a inflação abaixo do limite em 2015. “Já iniciaremos o ano com forte
pressão inflacionária por causa do aumento na conta de luz e do possível
reajuste dos combustíveis”, diz.
Gesner, da Go Associados, projeta uma inflação de 6,3%
em 2015, com o realinhamento “especialmente em tarifas de transporte urbano e
energia, além de efeitos ainda incertos da desvalorização do real”.
Alessandra, da Tendências, espera que a alta da
energia atinja 18,1% em 2015, enquanto a gasolina pode subir 12% e o transporte
público, 9%. “Isso vai reduzir a renda disponível das famílias”.
Para Thaís, da Rosenberg, a desaceleração econômica
pode trazer alívio sobre alguns preços, especialmente na área de serviços. “No
primeiro semestre, a inflação acumulada em 12 meses pode chegar a bater em 7%,
encerrando o ano na casa dos 6,5%”, acredita.
Na avaliação de Vale, da
MB Associados, devem ocorrer aumentos graduais ao longo do ano, com uma
elevação do IPCA de 6,8% no fim de 2015.
Juros
Em sintonia com o ciclo deste ano, a taxa Selic deve
continuar subindo em 2015, mas pode estancar até o fim do ano. A possibilidade
de queda é remota, dizem os economistas. Para Alessandra, a taxa subirá para
dos atuais 11,75% para 12% no início do ano e ficará neste patamar até dezembro.
A alta da taxa será um fator preponderante para
segurar a inflação perto do teto da meta, acredita o sócio da Órama. “Os bancos
estarão mais seletivos com o crédito, portanto os juros do mercado também vão
se manter altos. Não acho que a Selic terá espaço para cair ao longo do ano”,
diz.
Bandeira espera mais duas elevações ao longo do
próximo ano, de 0,5 ponto percentual e de 0,25 ponto percentual. Para Gesner,
os juros encerrarão 2015 em 12,5% ao ano, “em virtude das pressões
inflacionárias”.
Thais, da Rosenberg, concorda com este patamar para o
próximo ano. “Após chegar a 12,5%, a taxa ficará estável por algum tempo, à
espera de uma política fiscal mais austera, que poderá ajudar a conter a
inflação”.
Câmbio
Desde janeiro, o dólar acumula valorização em torno de
17% até o dia 16 de dezembro, quando fechou a R$ 2,7614. E a alta deve
persistir em 2015, com a moeda norte-americana batendo até R$ 2,80 no fim do
próximo ano, concordam os economistas.
“As moedas dos países emergentes passam por um
movimento de depreciação com a perspectiva de realinhamento dos preços
internacionais de ativos e com o início da elevação nos juros da economia
americana em 2015”, avalia Gesner.
Para Bandeira, da Órama, o dólar pode alcançar o
patamar de R$ 2,80 bem antes do que se imagina no próximo ano. “Se algumas
medidas do governo mostrarem eficácia, o ponto positivo é que os investidores
estrangeiros podem voltar a pensar em investir no Brasil, por estar barato em
relação ao dólar”, diz.
Não é difícil imaginar um cenário em que o dólar
chegue a R$ 3,20, acredita Vale, da MB Associados, devido à tendência de
volatilidade dos mercados. “A situação doméstica complicada e a política
monetária nos Estados Unidos em reequilíbrio significa que o câmbio que vai
sofrer esses impactos”, diz.
Emprego
Após taxas recordes de ocupação nos últimos anos, o
mercado de trabalho deu sinais de desaceleração e deve apresentar piora no
próximo ano. Alessandra, da Tendências, projeta um desemprego na faixa de 5,4%
para 2015, com expectativa de que “continue piorando um pouco” nos anos
seguintes.
Para Vale, os setores de comércio e serviços serão os
mais afetados pelos cortes de vagas, afetados pela tendência de encolhimento do
consumo no próximo ano. Não só haverá menos vagas, como também a renda do
trabalhador deve ficar menor.
“O crescimento da massa salarial reduziu-se com a
estagnação no estoque de trabalhadores ocupados e do crescimento dos salários
de forma mais alinhada ao da produtividade. Reajustes salariais acima da
produtividade deverão ser cada vez menos frequentes”, avalia Gesner.
Na visão de Bandeira, devem aumentar as tensões sobre
os dissídios coletivos, com maior pressão pela recuperação do poder de compra.
“Por outro lado, com o baixo desempenho das empresas, não haverá capacidade
para assumir esse adicional, criando um possível cabo de guerra entre os
grandes setores nas negociações das correções salariais”.
Os primeiros sinais de desaquecimento do mercado de
trabalho devem se intensificar ainda mais no próximo ano, considera Thaís. “O
rendimento deve crescer menos – mas ainda deve crescer, influenciado pela alta
de 2,5% real do salário mínimo –, ao mesmo tempo em que a taxa de desemprego
sobe”.
Indústria
Haverá uma recuperação no setor produtivo, mas ela
será insuficiente para ser considerada positiva, veem os economistas. “O
mercado doméstico tende a continuar com crescimento moderado em virtude do
enfraquecimento do mercado de trabalho e da persistência da inflação em níveis
relativamente elevados”, diz Gesner.
Para o analista da Go Associados, a Argentina,
principal destino de nossos produtos manufaturados, dificilmente sairá da atual
crise econômica, avalia. “Não se espera uma recuperação substancial da
atividade industrial dada a perspectiva para as principais economias do mundo”,
completa.
Estimando uma queda de 2,78% na indústria em 2014,
Alessandra, da Tendências, vê um ano “um pouco melhor” para a atividade, com
alta de 1,5%. “Mas não é suficiente para compensar a perda desse ano”, pondera.
Thais concorda com a tímida expansão em 2015, mas crê
que a depreciação do real possa dar alento a alguns setores menos intensivos na
importação de insumos, “ainda que seja na competição pelo mercado doméstico,
que estará encolhendo”.
Na visão de Vale, da MB, contudo, a indústria deve
cair em torno de 2% no próximo ano, com grande peso no setor de petróleo. “Por
mais que a produção cresça um pouco mais, vai afetar a capacidade de manutenção
das plataformas, o que já impacta na produção industrial como um todo”.
Para o economista, o fato de o setor automotivo
continuar em trajetória de queda, sem os estímulos como a redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados), ajudará esta queda, ao passo que a
mineração continuará sofrendo com os baixos preços no mercado internacional.
Contas públicas
Depois de 2014 correr o risco de fechar com déficit
primário, o pior resultado da série histórica do BC, o anúncio do ajuste fiscal
feito pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, trouxe alívio para o
mercado, apesar de ter sido encarado como um “mal necessário”.
“Se esse
pacote for eficaz, pode reverter o quadro para superávit primário. Mas o
governo sofre muita pressão para investir no próximo ano. Caso deixe de
investir, contribui demais para a paralisação da economia”, avalia Bandeira, da
Órama.
O economista
não vê espaço para mais aumento de impostos, embora ele seja necessário para o
equilíbrio das contas públicas e maior arrecadação.
Em virtude dos novos ajustes, 2015 será um ano difícil, com dois desafios
minando os planos de crescimento, de acordo com Bandeira. Um deles é a redução
de custos e, o outro, o aumento da produtividade. Este ajuste trará uma
complicação fiscal ruim para as empresas, na opinião de Vale, da MB Associados.
“Talvez não se consiga alcançar a meta de superávit de 1,2%, mas o patamar de
0,8% para o próximo ano é muito plausível”, acredita o analista. Para
Vale, sob qualquer ótica, 2015 será um ano complicado, uma vez que ajuste
também implica em desaceleração.
“De qualquer maneira que viesse [o ajuste] seria difícil. A questão é saber se
ele será suficiente para mudar todo o clima de confiança na economia”, conclui.
Fonte: G1 São Paulo
Pode ser visto em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/12/o-que-esperar-da-economia-em-2015.html