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23 de julho de 2024

BALANCEAMENTO DINÂMICO: OTIMIZAÇÃO DE ESTOQUES PARA RESILIÊNCIA E LUCRATIVIDADE

 

O Papel Crucial dos Estoques na Cadeia de Suprimentos

Os estoques representam um componente vital na cadeia de suprimentos, especialmente em cenários de produção make-to-stock em que a formação de backlog não é possível.

No caso da indústria de bens de consumo o varejo é bastante estudado por representar a efetividade total da cadeia. Estudos como os da Nielsen e da IHL revelam que os stockouts no varejo oscilam entre 7.4% e 8%. A Harvard Business Review destaca que a falta de produtos reduz o valor das vendas em cerca de 4%.

Este artigo irá explorar estratégias para se atingir o equilíbrio entre o nível de estoques e o nível de serviço, impactando positivamente o capital de giro, os custos de armazenamento, as vendas e a margem operacional.

Abordagens Convencionais na Gestão de Estoques

A gestão de estoques é comumente dividida em duas abordagens:

1) Top-down : Conduzida pela área de negócios e financeiro, tem como objetivo dimensionar o orçamento disponível para os estoques a partir de benchmarks externos, tendências de mercado e necessidade de liberação de caixa.

Benchmarks externos: comparação com empresas de referência para determinar a relação ideal entre margem bruta e dias de estoque

Informações extraídas dos relatórios financeiros de 2022 (apenas controladoras). Via Varejo: apenas se considerou a venda de produtos, sem inclusão de serviços financeiros

Tendências econômicas: análise de fatores como preços de commodities e escassez de materiais

Necessidades de caixa: seja para aquisições de ativos, redução do endividamento ou mudanças na estrutura de capital

2) Bottom-up: Executada pela área de operações, visa garantir a disponibilidade de produtos e atingir o nível de serviço desejado. Tipicamente apresenta as características abaixo:

Gestão manual : frequência baixa de revisões e segregação da gestão de produtos acabados e matérias primas

Ajustes incrementais : modificações sempre partem dos estoques atuais, sem reavaliações base zero para contenção dos estoques

Revisões reativas : propensão ao aumento contínuo dos estoques por conta de ajustes orientados à mitigação de problemas pontuais de abastecimento

Parâmetros operacionais constantes : baseados em premissas fixas como batches de produção, múltiplos de transferência, modelo operacional vigente

Identificando Oportunidades de Otimização

Exploramos três áreas principais para aprimorar a gestão de estoques, partindo daquelas de maior complexidade.

1) Revisão de Modelos Operacionais: a segmentação de modelos operacionais one size fits all, a migração das vendas para o canal direto e a implementação de um modelo make-to-order são algumas iniciativas que permitem reduções expressivas de custos e working capital mas apresentam uma alta complexidade de implementação. Um case de sucesso que combina os elementos citados é o da Dell, que desenvolveu um modelo assemble-to-order associado a um atendimento direto - que reduziu drasticamente os estoques e as perdas por obsolescência.

2) Integração da cadeia de suprimentos : o aumento da visibilidade e colaboração na cadeia (seja com fornecedores ou distribuidores) permite reduções significativas de estoques e custos para todos seus participantes. Este tipo de implementação apresenta uma complexidade intermediária e é exemplificado pelo case da Barilla.

3) Calibração dos estoques de segurança : este é o caminho que viabiliza ganhos mais imediatos através da implementação de modelos de otimização single-stage ou multinível (multiechelon). O case da P&G mostra como implementações de soluções de otimização de estoques em diferentes operações foram capazes de reduzir de 10% a 50% dos níveis de estoques e promover um aumento de até 2 p.p. no nível de serviço.

Iniciativas e Quick Wins Conforme a Maturidade da Gestão de Estoques

O caminho a ser seguido para trazer resultados dependerá do nível de maturidade da empresa cada qual associado a uma uma complexidade de implementação proporcional. Abaixo exploramos as principais iniciativas para a captura de ganhos associadas a cada nível de maturidade:

1) Início da Jornada : Estabelecendo uma Política de Estoques com Sistema DRP

 Para empresas que ainda não possuem uma política de estoques formal, o quick win reside na centralização e padronização das decisões de estoque. A implementação de um sistema de DRP (Distribution Requirements Planning) / Deployment pode ser um passo transformador, promovendo uma gestão de estoques orientada a dados (em particular à demanda e aos parâmetros de abastecimento/produção) e menos suscetível a decisões ad-hoc.

2) Gestão Reativa : Oportunidade na Reavaliação da Política com Base Zero e Segmentação

Nesse estágio os ajustes na política já são realizados em casos prolongados de indisponibilidade de materiais. As Organizações que se enquadram nesse nível de maturidade podem obter ganhos rápidos com a segmentação dos parâmetros de reposição (diferenciando por exemplo lotes mínimos de acordo com o giro do produto) e implementação de soluções single-stage para sugestão de estoques de segurança com base zero e calcada em dados históricos de aderência de demanda e lead time/fill rate do abastecimento.

3) Processo Estabelecido de Revisões da Política : Oportunidade na Otimização de Estoques Multinível

Empresas que operam com modelos single-stage podem se beneficiar da transição para uma abordagem de otimização estocástica multinível, tratando simultaneamente todos os materiais e elos da cadeia e considerando um número maior de variáveis e parâmetros.

Esses modelos buscam a melhor relação entre a participação efetiva de cada material (acabados, intermediários ou matérias primas) nas vendas e margem operacional e seus respectivos carrying costs e riscos de writeoff.

Deste tipo de otimização podem surgir insights importantes como potenciais postergações de produção com o objetivo de reduzir perdas ou o número de combinações material-location que carregam estoques de segurança.

4) Empresas que já Empregam uma Otimização de Estoques Multinível : Oportunidades em Novas Estratégias

Em organizações que já fazem uso de modelos de otimização de estoque multinível a oportunidade não está em quick wins imediatos mas na possibilidade de redefinir ou segmentar a estratégia da cadeia de suprimentos, o nível de serviço desejado e então desenvolver os modelos operacionais que suportem essa visão. Estas atividades podem promover mudanças substanciais no uso de estoques ao longo da cadeia e no esforço necessário para atender o nível de serviço acordado.

Por Erick Butler Poletto - Founder at OpsFactor

S&OE: Sales & Operations Execution

 

O processo de desdobramento do S&OP em planos operacionais é comumente conhecido como Sales and Operations Execution, S&OE,  e busca detalhar os planos de vendas para a elaboração dos planos de produção, recebimento e expedição semanais, permitindo ajustes e a melhor alocação de recursos possível frente as variações da demanda.

Em um cenário onde é cada vez mais difícil estimar a demanda e seu comportamento ao longo do mês, o alinhamento no nível tático, com um número mensal, por família de produto e para a empresa como um todo, discutido e acordado no processo de S&OP, não parece ser suficiente para evitar o desalinhamento das decisões das diferentes áreas organizacionais.

É preciso garantir, por exemplo, que um produto de baixo giro, que só é produzido uma vez por mês, entrará no scheduling de produção na semana mais adequada para recomposição de estoques, e não apenas na última semana do mês. Ou ainda que o plano de recebimento semanal está adequado para garantir a disponibilidade dos insumos que serão usados na produção daquela semana.

Na prática, o S&OE é um ciclo de planejamento mais curto, que tem início com a revisão da previsão de vendas para a semana seguinte, análise das necessidades líquidas de estoque decorrentes desta revisão e, a partir daí, a elaboração dos planos de recebimento, produção e expedição da próxima semana. Toda sexta-feira, como conclusão do processo de S&OE, ocorre uma reunião em que os números são discutidos e publicados.

Empresas de Fast Moving Consumer Goods (FMCG), inseridas em mercados altamente competitivos e dinâmicos, são as que mais sentem necessidade de desdobrar seus planos mensais. Já para empresas de setores industriais mais estáveis, com demanda mais previsível ao longo do tempo, e com portfólio de produtos mais restrito, o número do S&OP pode ser suficiente para o desdobramento dos planos operacionais por cada área, sem a necessidade de novos alinhamentos ao longo do mês.

Autor: Leonardo Julianelli - Instituto ILOS.