O
Papel Crucial dos Estoques na Cadeia de Suprimentos
Os estoques representam um
componente vital na cadeia de suprimentos, especialmente em cenários de
produção make-to-stock em que a formação de backlog não é possível.
No caso da indústria de bens de
consumo o varejo é bastante estudado por representar a efetividade total da
cadeia. Estudos como os da Nielsen e da IHL revelam que os stockouts no varejo
oscilam entre 7.4% e 8%. A Harvard Business Review destaca que a falta de
produtos reduz o valor das vendas em cerca de 4%.
Este artigo irá explorar
estratégias para se atingir o equilíbrio entre o nível de estoques e o nível de
serviço, impactando positivamente o capital de giro, os custos de
armazenamento, as vendas e a margem operacional.
Abordagens
Convencionais na Gestão de Estoques
A gestão de estoques é comumente
dividida em duas abordagens:
1) Top-down : Conduzida pela área
de negócios e financeiro, tem como objetivo dimensionar o orçamento disponível
para os estoques a partir de benchmarks externos, tendências de mercado e
necessidade de liberação de caixa.
Benchmarks externos: comparação
com empresas de referência para determinar a relação ideal entre margem bruta e
dias de estoque
Tendências
econômicas: análise de fatores como preços de commodities e escassez de
materiais
Necessidades
de caixa: seja para aquisições de ativos, redução do endividamento ou mudanças
na estrutura de capital
2)
Bottom-up: Executada pela área de operações, visa garantir a disponibilidade
de produtos e atingir o nível de serviço desejado. Tipicamente apresenta as
características abaixo:
Gestão
manual : frequência baixa de revisões e segregação da gestão de produtos
acabados e matérias primas
Ajustes
incrementais : modificações sempre partem dos estoques atuais, sem reavaliações
base zero para contenção dos estoques
Revisões
reativas : propensão ao aumento contínuo dos estoques por conta de ajustes
orientados à mitigação de problemas pontuais de abastecimento
Parâmetros
operacionais constantes : baseados em premissas fixas como batches de produção,
múltiplos de transferência, modelo operacional vigente
Identificando Oportunidades de
Otimização
Exploramos
três áreas principais para aprimorar a gestão de estoques, partindo daquelas de
maior complexidade.
1) Revisão
de Modelos Operacionais: a segmentação de modelos operacionais one size fits
all, a migração das vendas para o canal direto e a implementação de um modelo
make-to-order são algumas iniciativas que permitem reduções expressivas de
custos e working capital mas apresentam uma alta complexidade de implementação.
Um case de sucesso que combina os elementos citados é o da Dell, que
desenvolveu um modelo assemble-to-order associado a um atendimento direto - que
reduziu drasticamente os estoques e as perdas por obsolescência.
2)
Integração da cadeia de suprimentos : o aumento da visibilidade e colaboração
na cadeia (seja com fornecedores ou distribuidores) permite reduções
significativas de estoques e custos para todos seus participantes. Este tipo de
implementação apresenta uma complexidade intermediária e é exemplificado pelo
case da Barilla.
3)
Calibração dos estoques de segurança : este é o caminho que viabiliza ganhos
mais imediatos através da implementação de modelos de otimização single-stage
ou multinível (multiechelon). O case da P&G mostra como implementações de
soluções de otimização de estoques em diferentes operações foram capazes de
reduzir de 10% a 50% dos níveis de estoques e promover um aumento de até 2 p.p.
no nível de serviço.
Iniciativas e Quick Wins Conforme a
Maturidade da Gestão de Estoques
O
caminho a ser seguido para trazer resultados dependerá do nível de maturidade
da empresa cada qual associado a uma uma complexidade de implementação
proporcional. Abaixo exploramos as principais iniciativas para a captura de
ganhos associadas a cada nível de maturidade:
1)
Início da Jornada : Estabelecendo uma Política de Estoques com Sistema DRP
2)
Gestão Reativa : Oportunidade na Reavaliação da Política com Base Zero e
Segmentação
Nesse
estágio os ajustes na política já são realizados em casos prolongados de
indisponibilidade de materiais. As Organizações que se enquadram nesse nível de
maturidade podem obter ganhos rápidos com a segmentação dos parâmetros de
reposição (diferenciando por exemplo lotes mínimos de acordo com o giro do
produto) e implementação de soluções single-stage para sugestão de estoques de
segurança com base zero e calcada em dados históricos de aderência de demanda e
lead time/fill rate do abastecimento.
3)
Processo Estabelecido de Revisões da Política : Oportunidade na Otimização de
Estoques Multinível
Empresas
que operam com modelos single-stage podem se beneficiar da transição para uma
abordagem de otimização estocástica multinível, tratando simultaneamente todos
os materiais e elos da cadeia e considerando um número maior de variáveis e
parâmetros.
Esses
modelos buscam a melhor relação entre a participação efetiva de cada material
(acabados, intermediários ou matérias primas) nas vendas e margem operacional e
seus respectivos carrying costs e riscos de writeoff.
Deste
tipo de otimização podem surgir insights importantes como potenciais
postergações de produção com o objetivo de reduzir perdas ou o número de
combinações material-location que carregam estoques de segurança.
4)
Empresas que já Empregam uma Otimização de Estoques Multinível : Oportunidades
em Novas Estratégias
Em
organizações que já fazem uso de modelos de otimização de estoque multinível a
oportunidade não está em quick wins imediatos mas na possibilidade de redefinir
ou segmentar a estratégia da cadeia de suprimentos, o nível de serviço desejado
e então desenvolver os modelos operacionais que suportem essa visão. Estas
atividades podem promover mudanças substanciais no uso de estoques ao longo da
cadeia e no esforço necessário para atender o nível de serviço acordado.
Por Erick
Butler Poletto - Founder at OpsFactor
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