Navegar
é preciso. Fabricantes de bens de consumo como eletroeletrônicos, alimentos e
bebidas, higiene e transporte estão dando um novo sentido ao poema de Fernando
Pessoa. LG Electronics, Unilever e Caloi fazem parte do grupo de companhias que
vêm ampliando o uso da cabotagem, a navegação na costa brasileira, como
alternativa ao caminhão, para fazer a distribuição de produtos entre diferentes
regiões do país.
Custo
de frete cerca de 25% menor, em média, do que o modal rodoviário, integridade
da carga e redução das emissões de gás carbônico estão entre as vantagens de se
usar o barco. Mas o caminhão continua a ser mais rápido e flexível, na coleta
da carga, do que o navio.
A
LG Electronics aposta na cabotagem por considerar o modal mais seguro e
competitivo, em preço, do que o transporte rodoviário, diz Emanuela Almeida, gerente
de logística da LG. A empresa transporta, em barcos, na rota Manaus-São Paulo, 90%
de sua linha de áudio e vídeo, como tevês de LCD e LED e aparelhos de DVD, além
de ar-condicionado.
A
operação inclui a transferência de produtos da fábrica de Manaus para os
centros de distribuição em Pernambuco e São Paulo.
A
LG também contrata serviços de empresas de navegação como Log-In e Aliança para
entregar a grandes clientes como Casas Bahia, Fast Shop e Ponto Frio.
Fonte
do setor disse que um frete de caminhão, carregado com eletroeletrônicos entre
Manaus e São Paulo, fica em R$ 90 por metro cúbico. Na cabotagem, no mesmo
trecho, o preço é de R$ 76 por metro cúbico, uma redução de 15%.
Mas
a diferença de preço pode chegar a 40% dependendo do volume e da relação com o
cliente, diz Fábio Siccherino, diretor comercial da Log-In, que opera com cinco
navios na cabotagem.
A
concorrência entre as empresas de navegação aumenta no setor, que é liderado
pela Aliança Navegação e Logística. A empresa tem dois serviços de cabotagem, cada
um com quatro navios.
A
Unilever, uma das empresas que mais movimentam produtos de consumo no Brasil, incorporou
o uso de barcos pela costa brasileira como forma de cortar a emissão de gases
de efeito estufa. A iniciativa se insere no plano global de sustentabilidade da
companhia, que tem como meta reduzir as emissões de CO2 em até 40% até 2020.
"A cabotagem emite 90% menos CO2 do que o modal rodoviário", diz
Fernando Ferreira, diretor de qualidade e sustentabilidade da cadeia de
suprimento da Unilever.
A
empresa utiliza a cabotagem para fazer o transporte entre seus centros de
distribuição e os clientes, mas também estuda valer-se de barcos entre as
fábricas e os centros de distribuição.
O
caminhão ainda responde por 97% de todo o transporte da Unilever e, embora a
participação da cabotagem seja de apenas 3%, a tendência é de crescimento. A
principal rota para barcos usada pela empresa é a de São Paulo para o Nordeste.
Caetano
Ferraiolo, diretor de operações da Caloi, disse que a empresa usa navios sempre
que a data de entrega das bicicletas permite. Hoje o modal representa 35% das
entregas da Caloi, percentual que, em 2010, era de 10%. Preço e integridade do
material contam na escolha da empresa que, no primeiro semestre transporta, em
média, via barcos, 30 a
40 contêineres cheios de bicicletas por mês. No segundo semestre, o número aumenta
para 100 contêineres por mês.
Entre
os usuários, há consenso de que os problemas de infraestrutura nos portos ainda
são uma barreira para um maior crescimento da cabotagem. A indústria de consumo
costuma ter exigências para atender aos clientes em prazos curtos.
"O
varejo trabalha com estoque baixo, daí a importância da pontualidade. Não ser
pontual pode significar perda de espaço nas gôndolas", diz Ferreira, da
Unilever. O problema tende a ser menor nas redes de varejo e no atacado, que
oferecem margem maior aos fabricantes na entrega das mercadorias.
Fonte: Valor Econômico
Por
Francisco Góes
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