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19 de maio de 2012

ACURACIDADE NA GESTÃO DE INVENTÁRIO


Introdução

Em Supply Chain, “gestão de inventário” é a disciplina que capacita gestores para a função de controlar a movimentação de materiais no ambiente interno e externo da empresa, desde a chegada da matéria-prima até à entrega do produto final ao cliente. Independente do setor em que a empresa atue ou da sazonalidade que ela enfrente, a qualidade da informação proveniente da gestão de inventário é parte fundamental para todo o resultado estratégico financeiro que esta almeje alcançar.

Embora a logística busque cotidianamente ampliar sua atuação no controle operacional de custos de toda a cadeia de suprimentos – visando à obtenção de níveis de bens e serviços requisitados pelo cliente, atuando ativamente em suas atividades primárias, tais como transportes, armazenagem, processamento de pedidos, manuseio de materiais, embalagens de proteção entre outras – é respaldada pela gestão adequada da informação proveniente de todas as atividades ao longo da cadeia de suprimentos que a empresa poderá obter ganhos significativos, exemplificando: redução de estoque, do tempo médio de entrega, da produtividade, etc.

Acuracidade na gestão de inventário é sem dúvida um tema atual, importante e que deve ser colocado como prioridade nas agendas de supervisores, gerentes e diretores de qualquer empresa que busque atingir o patamar de eficiência operacional desejado.

Eficiência ou Serviço

A gestão de inventário é um assunto vital e absorve, freqüentemente, parte substancial do orçamento operacional de uma organização. Quanto menor o nível de estoques necessários para que um sistema produtivo consiga trabalhar, mais eficiente ele será, uma vez que estes primeiros não agregam valor aos produtos.

A eficiência na sua administração poderá criar a diferença perante os concorrentes. A melhoria da qualidade produtiva, a redução dos tempos operacionais, a diminuição criteriosa dos custos, dentre outros aspectos, são alguns exemplos de ações que oferecem vantagens competitivas para a própria empresa.

Nesse sentido, é fundamental que as empresas diminuam a quantidade de estoques na cadeia de suprimentos, a fim de obter uma racionalização nos custos de armazenagem e respectiva manutenção.

"Devemos sempre ter o produto de que você necessita, mas nunca podemos ser pegos com algum estoque.” (Ronald H. Ballou - professor de Operações na Weatherhead School of Management, em Cleveland EUA). É uma frase que descreve bem o dilema da descrição de estoques. Inicialmente, as lojas perdem vendas porque produtos não estão disponíveis na área de vendas. Em seguida, quando a falta de um produto é identificada, os compradores reforçam a compra e então a loja fica saturada com o estoque. Resultado final: excesso de estoque de alguns produtos falta de outros, problemas de estocagem, dificuldades de controle de inventários, dificuldade de introdução de novos produtos e consequentemente perdas de venda.

A incidência de ruptura em um produto reduz em geral 46% a intenção de compra inicial do consumidor – veja a figura 1.

FIGURA 1- Redução da intenção de gasto em
 compra devido a  ruptura

O controle de estoques é parte vital do composto logístico, pois estes podem absorver de 25% a 40% dos custos totais, representando uma porção substancial do capital da empresa. Portanto, é importante a correta compreensão do seu papel na logística e de como devem ser gerenciados.


Para muitas empresas que operam com algum nível de inventário em seus estoques, que almejam proporcionar a alta disponibilidade de seus produtos para os consumidores com um mínimo de custo operacional, especialmente em indústrias que enfrentam alta competitividade e onde as margens de lucro são cada vez menores, é muito comum encontramos uma solução ou sistema de automação de processos no gerenciamento de inventário. Por exemplo, muitos varejistas utilizam sistemas automáticos de reabastecimento (Automatic Replenishment System – ARS), que verifica o nível de um determinado item na loja e dispara uma ordem de compra automática para seu fornecedor com o mínimo de intervenção humana.

Para realização desta atividade, estas empresas dependem diretamente da acuracidade da informação processada pelos sistemas que direcionam as decisões estratégicas da companhia. A acuracidade da informação a respeito do local e quantidade dos itens é uma premissa básica para se coordenar qualquer movimentação dos produtos. Entretanto, se esta informação estiver incorreta, a habilidade de se prover o produto para o consumidor com o mínimo de custo operacional é comprometida. Por exemplo: se os dados de estoque apresentados pelo sistema para determinada planta estiverem em desacordo com o estoque físico real, ordens de compra podem não ser emitidas a tempo ou esta determinada planta pode estar atuando com sobre-estoque desnecessário.

Para onde devemos olhar?
Então, quais são os fatores chaves para a acuracidade na gestão de inventário? Diversos elementos são importantes, porém um dos pontos mais analisados é o Estoque Teórico (Item Master). Você tem em seu estoque teórico a correta descrição e as informações necessárias de cada produto, tais como tamanho e peso? Esta informação é atualizada? A quantidade destes itens está correta? Outro fundamento básico consiste no recebimento. Se no momento em que o sistema recebe a informação da quantidade de produtos recebidos ocorre alguma divergência, é muito provável que o nível de serviço no atendimento aos pedidos dos clientes seja prejudicado. O sistema continuará informando uma quantidade não correta e poderá liberar o atendimento a pedidos que efetivamente não serão realizados. Porém um dos problemas mais comuns e amplamente analisados está nos erros de contagem de inventário – veja figura 2 – e é através do aprimoramento neste procedimento que conseguiremos melhorar a acuracidade do inventário.


Desta maneira, a solução para se atingir o patamar ideal de acuracidade na gestão de inventário é o que chamamos de Real Time Inventory (RTI), pois reduz a possibilidade de grandes erros e é uma ferramenta que pode ser usada em vários momentos no caminho do produto até seu destino final, o cliente.

Real Time Inventory
A acuracidade das informações de inventário após uma contagem física anual do estoque é no máximo apenas adequada. É uma foto no tempo de quanto “aproximadamente” realmente existe. Então qual é a alternativa? Cycle Counting ou Inventário Rotativo.

Cycle Counting - “A Técnica de Contagem Física de Inventário onde o inventário é executado em uma programação periódica ao invés de uma vez ao ano.” – APICS.

Em um inventário rotativo é escolhida uma pequena porção do inventário total para ser contada todos os dias. Esta seleção pode ser randômica ou semi-randômica e a medida que os erros são encontrados eles devem ser corrigidos. O inventário rotativo remove erros do sistema tal qual um inventário anual, porém tem algumas vantagens significativas.

FIGURA 3 - Amostra Estatística

Utilizando o princípio da Inferência Estatística (figura 3), podemos verificar em uma amostra randômica de 100 peças de um quebra cabeça, retiradas de uma população de 1.000 peças, se 20% do total de peças são vermelhas isto infere que 20% (200) peças da população total também são vermelhas. Imagine que cada peça do quebra cabeça é um item diferente em seu inventário e as peças vermelhas são os itens que contém informações erradas no seu banco de dados. Se realizarmos uma contagem de 100 peças (itens) e corrigir os erros encontrados, teremos estimado a IRA (Inventory Record Accuracy) ou acuracidade do inventário em 80% e removido 20 erros. Repetindo este procedimento ao longo do período, a acuracidade tende a aumentar, pois, os erros são removidos mais rapidamente do que são introduzidos.

FIGURA 4 - Resultados semanais do inventário rotativo

A figura 4 demonstra os resultados típicos encontrados em um programa de inventário rotativo, ou seja, a cada semana a qualidade da informação encontrada está sendo aprimorada.

A contagem feita de forma contínua encontra erros, corrige problemas e aumenta a acuracidade. O inventário rotativo é mais barato e pode ser programado de acordo com a necessidade do negócio sendo realizado como parte da rotina do trabalho da operação. Os resultados são obtidos de forma rápida, pois não está sendo realizado em todo o estoque, mas em apenas uma seção, um SKU ou somente em um determinado item.

Aumentando a Eficiência da Contagem

É verdade que o inventário rotativo pode exigir certa quantidade de esforço, especialmente quando o IRA está na faixa dos 90%, isto acontece, pois mais contagens são necessárias para encontrar cada novo erro a medida que sua acuracidade aumenta.

Para aumentar a eficiência na detecção de erros e reduzir o custo envolvido, algumas técnicas estão disponíveis:

Ø      Regra de Pareto: O inventário rotativo utiliza uma regra simples do 80/20 de Pareto (veja figura 5) que direcionam as contagens dos itens A mais freqüentes, itens B menos freqüentes e itens C esporadicamente (veja tabela 1).

TABELA 1 - Padrão de Inventário Rotativo para o SAP R/3

   


Ø   Mapeamento da Contagem: Esta técnica agrupa as contagens que serão realizadas num determinado momento, em um mesmo setor, reduzindo o tempo de movimentação das pessoas envolvidas no processo.

Ø  Contagem Base Zero: Os profissionais envolvidos não sabem qual a informação deveriam encontrar no momento da contagem, apenas coletam a informação e enviam para o sistema, que pode gerar as divergências encontradas.

Ø      Utilização de Leitores de Código de Barra: Alguns equipamentos tornam as contagens mais rápidas e eficientes, podendo inclusive estar conectados ao sistema em modo on line.

Onde Podemos Errar?
O inventário rotativo nem sempre é perfeito. Alguma coisa pode e com certeza sairá errada, produzindo custos desnecessários e grande esforço, com pequenos resultados. Por isso é muito importante estar atento onde devemos concentrar esforços para garantir o resultado ideal.

Ø      Equipe Insuficiente: Subestimar o esforço necessário para a realização da tarefa pode gerar correria na contagem e erros desnecessários.

Ø  Treinamento adequado: Profissionais que realizam este trabalho devem estar bem treinados e preparados para operar o sistema e conhecer todos os passos a serem realizados.

Ø    Planejamento: Sem um planejamento a longo prazo dos inventários, problemas como contagens de brinquedos em dia das crianças podem acontecer, e certamente o volume e a falta de preparação dos produtos, podem comprometer a qualidade da contagem.

Ø     Ignorar a Prevenção de Erros: Prevenir os erros é sempre melhor do que corrigi-los, por isso o programa de prevenção sempre deve estar alinhado aos resultados do inventário.

O que devemos esperar?
Em suma, um dos maiores obstáculos na gestão de inventário das empresas de varejo, indústria de bens de consumo e outras está em atingir um patamar de qualidade necessário na integridade das informações de estoque, possibilitando aos profissionais que atuam no gerenciamento dos níveis adequados de inventário a tomada de decisões corretas, nos instantes corretos e com o mínimo de divergência possível. Desta maneira, o processo de contagem de estoque tem um papel fundamental para alcançar este patamar de qualidade da informação tão almejado.

A contagem de estoque, apesar de ser uma atividade necessária para o controle e gerenciamento efetivo do inventário de uma empresa, é uma atividade que consome tempo, muito dinheiro e torna ainda mais complexa as operações de varejistas, indústrias, centros de distribuições e muitos outros elos da cadeia de suprimentos. Além disto, processos incompletos, falhas nos procedimentos, falta de capacitação e outros problemas geram inúmeros erros de inventário, prejudicando todas as etapas da cadeia de abastecimento.

Os resultados esperados em um programa de Inventário rotativo pode demorar algum tempo para aparecer, especialmente após atingir o patamar de 90% na acuracidade de inventário. Por isso, encontrar maneiras que demandem pouco investimento, que sejam eficientes para realização da contagem e garantam a acuracidade nas informações de controle nos estoques tem sido um dos temas significativos em várias empresas do mundo.


Referências

Information Inaccuracy in Inventory Systems - Yun Kang e Stanley B. Gershwiny - Agosto, 2004
Inventory Management Beyond Pareto: A 12 Step Approach - Thomas L. Freese - www. FreeseInc.com
Inventory Record Inaccuracy: An Empirical Analysis - Nicole DeHoratius e Ananth Raman – Agosto, 2004
Retail Inventory Management When Records Are Inaccurate - Nicole DeHoratius, Adam J. Mersereau, e Linus Schrage - The University of Chicago Graduate School of Business
Should inventory policy be lean or responsive? Evidence for US public companies - Serguei Roumiantsev e  Serguei Netessine - The Wharton School University of Pennsylvania
APICS Dictionary
Frequent Inventory Counts – www.cbaonline.org
Cycle Counting & Inventory Record Accuracy - Strategos-International

Por Eduardo Valente Neto, Gerente de Supply Chain na Accenture.

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